Pobre do pangolim… Encolhido, enroscado (como que rogando ‘não me façam mal, sim?’) foi encontrado num automóvel em zona de estacionamento do Centro Comercial de Mahikeng (outrora Mafeking), a capital da província sul-africana do Noroeste, nas circanias do posto fronteiriço entre a África do Sul e o Botswana a 300 quilómetros de Joanesburgo.
As autoridades aprisionaram quatro pessoas que tentavam vender o enroscado pangolim por R250.000 (circa €14.000) – levadas a tribunal sob acusação de infracção ao Código do Tráfico de Vida Selvagem (Lei Nacional sobre Gestão da Biodiversidade e do Meio-Ambiente).
O pangolim é um pequeno mamífero, papa-formigas de carapaça escamosa, que vive em zonas tropicais da Ásia e África. O pangolim temminck é assim denominado pois foi o zoólogo holandês Conraad Jacob Temminck, Director do Museu de História Natural de Leiden, que no século 19 o catalogou. A carne do pangolim é iguaria em mercados da Ásia; vendida a ‘preço de ouro’, passe a equivalência.
O mesmo acontece com a carne do haliote (abalone), molusco em risco de extinção, também dispendiosa iguaria em mercados asiáticos. O interior da sua casca é utilizado em joalharia, enfeites de mobiliário e de instrumentos musicais mercê o seu aspecto de nácar iridiscente.
O tráfico de espécies animais e vegetais ditas exóticas vem de longe, no espaço e no tempo. África há milénios que tem sido palco de intenso tráfico de marfim. Na maioria dos casos, hoje, os paquidermes são vítimas da caça furtiva; o seu número fica de tal forma reduzido que a este ritmo e dentro de poucas décadas o dia possa chegar em que o elefante seja visto e se reproduza só em Jardins Zoológicos.
Em décadas mais recentes e ainda a fazer levantar o sobrolho das autoridades da Conservação da Natureza passou a ser vendida a prémio em mercados da Ásia a haste do rinoceronte; reduzida a pó é utilizada como produto afrodisíaco e de há longa data que é utilizada em rituais de ocultismo em África.
Tão a prémio se encontra o corno do rinoceronte nesses mercados que a caçada ao animal é feita mediante dispendiosas incursões a zonas protegidas com armas automáticas disparadas de helicópteros sobrevoantes (tal como acontece com a caça furtiva ao elefante). É localizar um rinoceronte branco (o de maior porte) ou negro (de menor porte), disparar, aterrar, serrar a haste, levantar vôo e nada foi visto.
Em certas dessas zonas como o Parque Nacional Kruger, ou em coutadas privadas, a África do Sul reune o maior número de rinocerontes do continente, os quais já escasseiam em numerosos países africanos.
É claro que o tráfico destas espécies animais responde à procura de mercados quer intermediários, quer além-mar. A protecção da Vida Selvagem significa, outro tanto, que as respectivas autoridades corram real perigo de vida; vários guardas florestais houve já a terem sido vítimas desses caçadores na ilegalidade.
Do haliote ao pangolim, ao rinoceronte de duas toneladas ou ao paquiderme de quatro, pouco escapa à rede, ou à mira, dos chamados sindicatos da pesca e da caça furtiva em África.