Interessante é certamente notarmos quão prolífera é a nomenclatura de raízes portuguesas em terras de África.
Um colega de origem queniana dizia-me que em certas áreas do seu país chamavam aos portugueses de ‘morrenos’ (com bem carregados érres). Não sabia porquê, mas pergunto-me se acaso não estaria relacionado com portugueses de antanho que nas suas idas e vindas em caravelas pelo Índico afora ‘nos caminhos da Índia’ tivessem lançado âncora em águas do litoral, hoje queniano, de barba rija e cabelos ‘desfraldados’ ao vento que de ‘loiros’ nada tinham, muito pelo contrário bem queimados pelo sol estaríam, ou assaz ‘morenos’.
Um outro colega, oriundo de terras da costa ocidental africana, confirmou a razão de ser do seu país de origem se chamar Costa do Marfim. Ainda se vêem hoje, dizia-me, manadas de paquidermes bamboleando-se ao longo de certas zonas do litoral.
Outro colega ainda, não sabia que o nome do país de suas raízes derivava do muito apreciado petisco que os camarões oferecem em toda a parte. Mas há mais, muito mais.
Em Moçambique e Angola, por exemplo, ainda hoje é conhecido e usado o termo ‘mata-bicho’, significando a primeira refeição do dia, o pequeno almoço (que ‘matava o bicho da fome’); em Moçambique também poderia significar uma pequena dádiva em dinheiro, um saguate (assim
denominado no centro do país) para a aquisição de algo que ‘matasse o (mesmo) bicho’.
Curiosamente, em certas zonas de países francófonos da África Ocidental o termo mata-biche era ou é utilizado com este mesmo e último significado. Muitos termos de raíz portuguesa há em África até mesmo na sua própria toponímia.
Um deles diz respeito a uma zona da costa oriental sul-africana, derivando de nomenclatura atribuída a Vasco da Gama, ou ao seu capelão a bordo, ao referir-se a 25 de Dezembro de 1497 quando a pequena armada que Gama comandava na sua primeira viagem a caminho da Índia zarpou de águas do litoral de terras de ‘Natal’; assim ficavam apelidadas aquelas paragens.
Trezentos e vinte e sete anos mais tarde, em 1824, a norte da baía (já conhecida de ‘Natal’), sob o comando do tenente Francis George Farewell eram abertas fundações para o casario de uma trintena de mercadores vindos da então Colónia Britânica do Cabo: nascia Port Natal.
Toda aquela zona era habitada pela poderosa tribo Zulu. Farewell solicitou e recebeu permissão do Rei Zulu Shaka para ali estabelecer uma pequena missão comercial.
Em Port Natal podiam ser aprovisionados navios britânicos demandando ou regressando da Índia e ser mantido comércio de marfim com os Zulus.
Volvidos 11 anos, a 23 de Junho de 1835 (fez o mês passado 187 anos), Port Natal passou a ser designado de Durban, em honra do então Governador Britânico da Colónia do Cabo: Sir Benjamin D’Urban.
Por lá passou Winston Churchill em 1900 de regresso à Grã-Bretanha, depois de ter escapulido de uma prisão Boer em Pretória.
Entre 1896 e 1905 na cidade de Durban fez a sua escolaridade primária, secundária, média, e preliminarmente superior Fernando Pessoa.
Na mesma altura o Mahatama Ghandi residiu no chamado Phoenix Settlement das circanias (1893-1914).
Bem localizada, Durban (hoje eThekwini no idioma Zulu), a principal urbe da província do Kwazulu Natal, foi sendo desenvolvida para se tornar na terceira maior cidade sul-africana (a seguir a Joanesburgo e à Cidade do Cabo), ali também se situando o segundo porto de mar de maior manuseamento de contentores em África (o primeiro sendo o de Port Said, no Egipto).