Por gosto do antigo e da sua utilidade, tenho em casa dois relógios de parede, do fim do século passado, não apenas para vista, mas para cumprirem a sua missão: dar as horas, o que eles fazem.
Em contrapartida e para que não pararem, tenho de dar-lhes corda, para o que existe uma chave própria. É uma operação dupla: corda para o mecanismo dos ponteiros, e gorda para o sistema de toque.
Diz-se dar as horas, porque as abaladas são sonoras e ouvidas mesmo à distância, assim podendo todos escutá-las dando conta do decorrer do dia.
O mostrador tem numeração romana ou latina, consoante o modelo, e por escolha do freguês. Não pensem que uma peça destas é cara, pela simples razão de que quem os herda, é a primeira coisa que vende, desfazendo-se assim, e a baixo preço, daquilo que acha ser inútil, e se calhar até ridículo, como ficar à espera de ouvir ou ver as horas, quando têm para Isso, e para muito ais, um telemóvel no bolso…
Dou à corda a ambos, todos os sábados para me não esquecer, e fico olhando para essas peças, eternamente curiosas e até belas, que representam gerações, marcam a História e contam estórias, certamente centenárias, e sempre a trabalhar, tic-tac, tic-tac, sem avarias visíveis, o que garante que, naquele tempo, o que se fazia era para durar, e para servir por vida, e não para usar e deitar fora, como hoje é regra comum.
Damos corda a tanta coisa, como não ter paciência para a dar a quem em troca nos serve, badalando alegremente, noite e dia. E se é verdade que com o tempo se podem atrasar uns minutos, acertá-los nunca é missão difícil.
Alguém alinha comigo?
Assim se pudéssemos dar corda à própria Vida, o que como bem sabem, não é ainda possível…
E o meu pensamento sobre o assunto é:
“Ouvir tocar as horas é um alerta para o
tempo de vida que nos resta…”