Estou longe de ser um chauvinista, mas não nosso deixar de considerar que não há melhor comida no mundo do que a inventada na nossa terra e feita pelas mãos das nossas avós, mães e tias, que guardam ancestrais segredos e truques de bem cozinhar em todos os tachos, frigideiras, panelas, caçarolas, cataplanas, tabuleiros, fogareiros, grelhadores, seja o fogão a gaz, elétrico ou no forno de lenha.
Verdade se diga que há gastronomias fabulosas em outras paragens, mas comidinha como a nossa não se encontra em lado nenhum.
Veja-se o caso da Bélgica que tem como prato nacional variadas maneira de cozinhar mules acompanhadas pelas frites, que o mesmo é dizer mexilhão com batatas fritas. Também há referir as boletes e o ensopado flamengo.
Sendo tudo muito aceitável, não consigo deixar de considerar que os mexilhões feitos numa das tascas do Meco não ficam nada atrás das mules belgas, e que as nossas almôndegas são bem melhores do que as boletes deles, para não falar que qualquer ensopado nosso bate aos pontos o que aqui se come.
Um goulash húngaro perde definitivamente perante um guisado dos nossos por muito mal feito que esteja, da mesma maneira que o fish and chips inglês parece que não ligam bem nos paladares nem na textura, e saem claramente a perder com qualquer uma das nossas receitas de peixe. seja frito, cozido, assado ou grelhado.
Concedo que o magret de canard e o confit de canard da cozinha francesa são óptimos e que jambonneau alsaciano é uma experiência gustativa, mas um arroz de pato ou um leitão da Bairrada são insuperáveis nos sabores que se devoram por pura gulodice.
A nouvelle cuisine francesa pode ser ótima e tem pratos de grande qualidade, mas é fundinho de comida para os nossos hábitos, e a fome não se compadece com tão pouco.
Veja-se o chucrute, que é o acompanhamento principal de muitos pratos na Alemanha. Trata- se de repolho fermentado em conserva, servido frio, e acompanha principalmente salsichas, linguiças e carne de porco em geral. No início até se gosta, mas depois torna-se enjoativo e passados alguns dias já nem o cheiro se aguenta.
Para a troca podemos sempre apresentar um belo de um cozido à portuguesa com toda a sua variedade de carnes e enchidos que não tem par neste mundo. Todo o bom português se esfalfa em busca do restaurante que melhor faça o belo cozido.
Já o arenque holandês que tradicionalmente é servido o cru, acompanhado de cebola picada e picles, não se compara nem de perto nem de longe às nossas sardinhas ou a um salmonete, linguado ou sargo da nossa costa, assados na brasa que são insuperáveis.
Na cozinha oriental o sushi e sashimi japonês, o Chop Suey de vaca, porco ou galinha, os agridoces as guiozas da China, assim como os tailandeses Pad Thai ou Kai Pad Med Mamuang são pratos excelentes, mas não são para se consumir diariamente, pois os sabores acabam por enjoar.
O mesmo se diga de uma muamba ou de uma cachupa. É bom sim senhor, mas lá está, o meu paladar não aguenta repetir esses cozinhados mais do que uma ou duas vezes por ano.
Ainda esta semana fui experimentar comida etíope pela primeira vez e não sendo má também me deliciou. Há quem se perca de amores por uma tagine de borrego marroquina, mas, modéstia à parte, o meu borrego feito de acordo com a receita da minha
querida mãe é mil vezes melhor e todos os que provam volta não volta lá pedem que lhes cozinhe o dito à moda da D. Isaura.
É verdade que o Brasil tem boas carnes e a picanha é do melhor e ninguém renega uma feijoada à brasileira, quando bem-feita. Mas, a nossa feijoada à transmontana, sendo bem diferente, não lhe fica nada atrás, antes pelo contrário, é de certeza bem mais saborosa se as couves forem da horta e as carnes criação de casa.
Ninguém como os italianos soube internacionalizar tão bem um tipo gastronómico em que as pizzas e as massas são rainhas, mas para comer de vez em quando, e aos americanos é preciso reconhecer que nos fast food ninguém os bate, particularmente nos hambúrgueres das várias cadeias, mas para comer raramente.
Não posso terminar este texto sem referir as tripas à moda do Porto nem as nossas mil e uma maneiras de cozinhar bacalhau, e aí somos mesmo insuperáveis. Na doçaria pedimos meças a todos. Finalmente uma confissão. Para mim, não há melhor prato do que um simples bacalhau cozido com grão, que posso repetir dias a fio sem nunca me enjoar.