O júri de world music da Academia Francesa de Música, Charles Cros, deu o Prix de La Musique – na seleção dos melhores deste ano – na categoria Criação, ao álbum “Migrants”, de Mario Lucio – o músico e compositor cabo-verdiano – editado pela Banzé/MDC/PIAS.
Mario Lucio torna-se, assim, no segundo músico cabo-verdiano a merecer a prestigiosa distinção, depois de Cesária Évora, em 1995, ter recebido este prémio, tido como o equivalente francês do Grammy, atribuído anualmente a grandes destaques ou obras impactantes na cena musical mundial.
A cerimónia no Musée des Confluences de Lyon teve transmissão televisiva em direto.
A Académie Charles-Cros foi criada em 1947 por um grupo de críticos e especialistas em gravação. O atual presidente é o renomado maestro Alain Fantapié.
A Academia, além de sua função deliberativa coletiva, trabalha com comissões especializadas (Música Clássica, Música Contemporânea, World Music, Jazz e Blues, Canção, Público Jovem, Letras e Documentos Sonoros).
SOBRE O NOVO ÁLBUM
O décimo álbum da carreira de Mario Lucio é um gesto de encontros. O artista entrega os arranjos e a produção de “Migrants” à sensibilidade do multi-instrumentista e produtor Rui Ferreira.
“Queria, neste álbum, que a minha alma fosse lida pelo Outro”, conta Mario.
O conceito de mistura, diálogo e harmonia entre as culturas é o mote deste trabalho, rompendo os conceitos de fronteiras, barreiras de línguas, cor, religião ou nação, sendo um disco universal ao trazer novas sonoridades à música de Cabo Verde, guardando sempre a sua alma, com um toque mais atual.
“Migrants (shakespearience)” é a faixa que dá nome ao novo disco de Mario Lucio.
Mario Lucio explica que “a saga da Humanidade começou há 65 mil anos com as primeiras migrações. Migrar é, portanto, sinónimo de Humanidade. Viemos todos da mesma partida. Essa epopeia fantástica formou o que nós somos hoje: pessoas de diversas cores e feições habitando o Planeta. Porém, hoje, migrar, para muitos, é sinónimo de drama. Migração soa a sofrimento”.
Sendo que a migração é o início da sociedade como a vemos, é também o nome do primeiro tema a ser revelado do novo disco. O tema surge numa história que o artista leu no jornal sobre um barco de migrantes avistado por um navio cruzeiro próximo das Ilhas Canárias.
“O navio desviou-se para os socorrer, mas já não havia vidas a salvar. Os corpos foram recolhidos e levados para a terra. O insólito aconteceu então, quando os turistas recorreram ao tribunal para solicitar uma indemnização, porque o incidente lhes tinhas estragado as férias”, conta o artista.
“Migrants (shakespearience)” nasce assim “em referência ao drama do ser humano.; catorze anos depois, para alertar o Mundo que a tragédia continua no Mediterrâneo, no Atlântico, onde milhares de crianças, mulheres e homens perdem a vida todos os anos”.
E remata Mario Lucio que “cantar é uma forma de protesto, é uma luta contra o olvido, é um acto de fé e de esperança.”