Lyubov Panchenko, uma proeminente artista visual ucraniana, faleceu no dia 30 de abril 2022, aos 84 anos.
A designer, que estava acamada e debilitada, acabou por não resistir às mazelas dos 30 dias de fome e bombardeamentos russos na cidade de Bucha onde estava a viver.
A própria casa ficou destruída nas hostilidades.
Panchenko foi uma das artistas mais conhecidas dos anos sessenta – da geração de intelectuais ucranianos que apareceram na cena cultural durante o tempo do presidente soviético Khrushchev, uma altura em que a censura e a repressão do totalitarismo soviético foram amenizadas em todas as frentes.
A artista não se interessava por política, porém, a política não a largou durante a vida.
Panchenko arrecadou fundos para ajudar os presos políticos condenados por “propaganda anti-soviética”. Nos tempos da união soviética, as suas obras não podiam ser exibidas ou publicadas.
“A política foi-me imposta ao longo da vida, e eu estava muito longe dela. Sempre falei ucraniano”, disse a artista em vida.
Toda a sua arte girava em torno da cultura nacional ucraniana. Panchenko fazia questão de falar a sua língua, o ucraniano, e usava motivos e ornamentos folclóricos do seu país nas suas obras.
A sua maior vocação era para o design de moda. Em criança os pais não a encorajaram nas aspirações artísticas e também não a apoiaram enquanto estudava na escola de arte.
Os esboços de bordados e desenhos de moda chegaram a ser publicados na “Mulher Soviética” — a revista feminina ucraniana da época. Fotos feitas para http://treasures.ui.org.ua em 2020
Os seus trajes bordados eram populares entre a intelectualidade ucraniana. Panchenko passava todo o tempo livre a trabalhar, por exemplo, bordava muito quando fazia o percurso de Kiev para Bucha de comboio.
Panchenko criou padrões únicos que foram copiados por outros mestres. Alguns dos seus tecidos de casaco, 1973-75, fizeram imenso furor.
A artista não conseguiu sair de Bucha durante a ocupação russa onde sobreviveu acamada e faminta durante um mês. A própria casa ficou toda destruída.
Antes destes trágicos acontecimentos e, de forma a salvar as suas obras, Panchenko doou-as ao Museu dos Sessenta em Kiev. Outras obras podem ser encontradas nas coleções particulares de amigos.
Fica aqui a sugestão para quem gosta de cultura e moda. Quando a Ucrânia sair vitoriosa desta guerra, aproveite para visitar o Museu de Kiev.
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