Se vos falar sobre as brincadeiras que tínhamos no meu tempo, entre os seis e os doze anos, por certo recebo de volta uma incontida gargalhada, logo seguida de jocosos comentários, o mais ligeiro dos quais poderá ser um desdenhoso: “coitados …eram uns atrasadinhos!”
Acreditem, no entanto, que nós não nos julgávamos assim, e até vos garanto, que se por acaso o que vou escrever, for lido por alguém que o tenha feito, não me admiraria nada, que uma teimosa lágrima de saudade, viesse acompanhar a leitura.
Nesse tempo, a diversão predileta de rapazes e raparigas era brincar às escondidas; do grupo de jogadores se escolhiam ao acaso, os que deviam esconder-se, e aquele a quem competia encontrá-los; fazia-se essa escolha ao som desta cantilena, ou doutra qualquer, parecida: “Pim, Pam, Pum, cada bola mata um …”
Depois, tapados os olhos do que iria procurar, todo o mundo fugia e se escondia no sítio mais a jeito. Cabia ao tal, já de olhos destapados, descobrir onde. Era um saudável exercício mental e físico, que não raro terminava em gargalhada.
Outro jogo apetecido, principalmente pelos rapazes, era o do berlinde, como se dizia erradamente, porque corretamente deveria dizer-se belindre ; três covinhas na areia, umas bolinhas de vidro colorido, os tais “berlindes”, mais a habilidade para acertar nos dos outros, afastando-os do caminho, de modo a chegar primeiro à última cova, e aí ficava o jogo feito.
Simples, mas obrigando também a um bom exercício de pernas.
Porque as árvores eram frondosas e diversificadas no paraíso onde vivia, o terceiro jogo consistia de subir à árvore mais alta, à força de braço e ir até ao topo sem nenhum estratagema.
Embora a brincadeira fosse mais adequada para os rapazes, havia raparigas que o faziam na perfeição, arriscando-se no entanto, porque a saia ainda superava a calça comprida no trajo feminino, a mostrarem o que não deviam, como era imposição nesse tempo.
A concorrente arriscava-se no mínimo, a ser apelidada de maria-rapaz, sem maldade nenhuma , e até com aplauso…pois não!
E era assim no meu tempo; ingénuo seria, mas salutar também; certo, certíssimo, é que ninguém de facto passava o seu dia sentado, na mesma posição, de olhos fixos no mesmo sítio, sem ver nem ouvir nada à volta…lá isso garanto que não!
A propósito, aqui fica o meu pensamento:
A vida não é seguramente uma brincadeira…
Mas, a brincar, também se vive…