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Duplo F
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As duas irmãs

A saúde e a doença são duas irmãs, que percorrem juntas o caminho da vida.

Nós gostamos mais da primeira do que da segunda, mas na verdade, cada qual tem uma missão perfeitamente definida, e às duas temos de dar a mesma atenção.

Curiosamente, é precisamente com a segunda, a tal de que não gostamos tanto, que despertamos para o facto da vida não ser um caminho plano, e do quanto nos esquecemos ser necessário prevenir antes de remediar.

O mesmo fazemos com a irmã saúde, julgando a cada instante que há uma dádiva eterna que nos pertence, e que podemos usar a nosso belo prazer.

Por isso lá aparece a irmã doença a dizer-nos que não, que a irmã saúde é muito desejada, mas tem também de ser olhada como um bem que se deve estimar, cuidar e manter.

Mas o ser humano, que é de excessos, e gosta pouco de conselhos, lá vai pensando que “bem prega São Tomás, mas não faças o que ele faz”, e daí, começam os esforços exagerados, nos mais variados campos da atividade diária, as comezainas saborosas de que mais gostamos, e
outras asneiras quejandas, que vão naturalmente entregar-nos, tarde ou cedo, nas mãos da irmã doença, a tal que achamos que só está virada para o mal.

Atribuímos isso a invejas, a mau-olhado, a contágios, mas nunca, claro, a nós.

A irmã doença ao princípio, bate-nos no ombro devagarinho, e aplica a primeira lição; vem a segunda, a terceira, a quarta, e como entre cada uma, atua a irmã saúde, e por isso continuamos a fazer os desmandos do dia a dia, e naturalmente a pensar, solidamente, que a culpa, afinal, não é mesmo nossa, ficando, sempre na esperança de que a irmã saúde resolva por si as coisas.

Por esta altura da conversa, já viram onde eu quero chegar.

Só ficamos assustados, quando a irmã doença obriga a uma atitude de respeito que não envolva apenas comprimidos ou chás curativos, e a irmã saúde, decide abandonar-nos definitivamente.

E há sempre um momento na vida, em que paramos para pensar, e achamos que, de facto,
talvez seja bom tomar as medidas preventivas que sejam possíveis, e abandonar o incorreto caminho de tudo querer, tudo fazer, tudo desejar, sabendo desde logo que não podemos arcar com tanto esforço, e que a vida na verdade, obriga a paragens para repousar, pensar, e até emendar a rota que achávamos correta, e que na verdade não o estava.

Muitas vezes tarde demais.

 

A irmã saúde também se farta de não ser devidamente agradecida, e respeitada, coisa que
nos esquecemos facilmente de fazer, e diz:

– Assim queres, assim tens.

Não sei se a irmã saúde fala muito com a irmã doença, mas quer me parecer que sim; do que
falam não sei, mas adivinho que será sobre a incoerência humana, a sua comum insatisfação, e a ultra dimensionada ambição que lhe é peculiar.

De uma coisa estou certo, a tal irmã de que não gostamos, das duas que andam sempre juntas, toma a decisão de escolher, a forma como se vai ver livre de quem tão pouco lhe dá atenção.

Bem implora a irmã saúde, “não lhe faças isso, coitado”, mas há sempre um momento, suave ou duro, que ela assina definitivamente, o fim da nossa teimosia.

Tratem a irmã saúde o melhor que puderem, acatem os seus ensinamentos, agradeçam as suas dádivas, mas não se esqueçam da irmã doença, que lentamente ou num segundo, pode decidir o fecho de uma vida.

O meu pensamento da semana aqui fica:

SAÚDE E DOENÇA SÃO O DIA E A NOITE DE
QUALQUERS VIDA.


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