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MUDA
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AREIAS DO INFERNO: A COSTA DOS ESQUELETOS!

Para aproveitar ventos e correntes de feição levando a melhor dobrar o já então designado Cabo da Boa Esperança, a armada comandada por Vasco da Gama (na primeira viagem à Índia) depois de Cabo Verde rodou o leme a estibordo, a oeste e a pleno oceano aberto, longe da costa que hoje é a da Namíbia; esta sendo uma possível leitura desse desvio da rota a meridião.

Terá sido essa a única razão desse alargado circuito ou também aconteceu por referência à viagem havida dez anos antes, quando duas caravelas e uma naveta sob o comando de Bartolomeu Dias, depois de Angola e rumando também a sul, terão sulcado águas limítrofes à orla das ondulantes dunas do mais antigo deserto do globo – o Namibe – que os mareantes portugueses de antanho passaram a denominar de ‘Areias do Inferno’, hoje conhecida por ‘Costa dos Esqueletos’?

Perigos de relevar sempre houve para a navegação nesses 1.572 kms de águas sobranceiras às tórridas dunas do Namibe como as densas mantas de nevoeiro cerrado que cobrem o litoral durante para cima de 180 dias do ano e as centenas de escolhos ali espalhados que Dias teve de evitar antes de dobrar o Cabo das Tormentas.

Todo ao longo dos séculos e das “Areias do Inferno cum Costa dos Esqueletos’ calcula-se que tenha havido cerca de mil naufrágios; naus e navios encalhados nessa imensa extensão costeira, desértica e inabitada, onde quaisquer sobreviventes ficavam à mercê de impediosa sêde se não fossem socorridos por mareantes que ali passassem – vendo-se ainda hoje carcassas enferrujadas de navios semi-soterrados numa costa açoreada pela Corrente Fria de Benguela (vinda do Atlântico Sul) e pelo
constante movimento de enormes dunas ‘açoitadas’ por ventos de sudeste.

Em 2016, o arqueólogo Dieter Noli identificou madeiras, mosquetes, espadas, munições para canhões, entre outros, encontrados em 2008 algures na ‘Costa dos Esqueletos’.

Tratava-se de vestígios da ‘Bom Jesus’ (nau portuguesa que demandando a Índia desapareceu em 1533), sendo amealhadas duas mil moedas de ouro e de prata portuguesas e espanholas; vestígios esses que fazem relembrar (com a devida vénia) o poema de Fernando Pessoa, cujos primeiros versos traduzem a tragédia de quem na ‘Bom Jesus’ terá viajado: “Ó mar salgado, quanto do teu sal, são lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, quantos filhos em vão rezaram! (….)”; assim como, adiantemos, a das vítimas de outros naufrágios pela ‘Costa dos Esqueletos’ fora esquecidas ao longo dos tempos.

Os Portugueses foram os primeiros a investigar o potencial do deserto do Namibe ao tentarem (sem qualquer sucesso) ali encontrar jazigos de prata nas suas areias; ao invés, teriam possivelmente encontrado umas pedritas luzidias às quais ninguém naquela altura atribuía qualquer valor e cuja exploração hoje muito serve à Economia namibiana: diamantes!

A Namíbia abrange vasta extensão de terras áridas e semi-áridas com uma área total rondando os 825.000 kms 2 , um pouco superior à de Moçambique. Com apenas 2,5 milhões de habitantes depois da Mongólia a Namíbia é o país de menor densidade populacional do globo; a sua capital, Windhoek (‘Canto Ventoso’), alberga meio milhão de habitantes.

Também durante séculos jamais se imaginaria que a linha traçada ao longo do seu litoral separasse a acumulação de outras reservas naturais de primordial importância para a Economia da Namíbia dos nossos dias: se de um lado se deu a descoberta de valioso jazigo de urânio em solo vizinho às ‘Areias do Inferno’, do outro em 2022 deu-se a localização de imenso jazigo de petróleo no substratum do leito de águas ao largo da mesma ‘Costa dos Esqueletos’.

Créditos Imagem:

Joshua Kettle;

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