Que me perdoe Aldous Huxley por usar nesta modesta crónica o título do seu ilustre livro, publicado um ano antes do meu nascimento. Embora de forma romanceada, já nessa altura se preocupava o autor, maravilhado com o salto tecnológico do seu tempo, que esse avanço viesse a desumanizar o homem.
Quase um século depois, a dúvida continua a ser válida.
É inegável o caminho brilhante e contínuo da tecnologia, é espantosa a inventiva humana, é imparável a mudança neste mundo sempre novo, é louvável o esforço de quem o muda, sem cuidar até de deixar o seu nome na lista da mudança.
Mas será que essa maravilhosa mudança, teve equada mudança de atitude por parte do Homem?
Aceitem que tenha dívidas. No que há tecnologia diz respeito o Maravilhoso Mundo que se antevia foi largamente ultrapassado, e como prova, à espreita já está a inteligência dita artificial.
Mas quanto ao Homem e à sua esperada mudança de atitude, pouco vi de maravilhoso; pude assistir à segunda Grande Guerra Mundial, ao lançamento da primeira bomba atómica, e passados tempos à
sequência de outras guerras mais pequenas, mas não menos sangrentas, e agora assisto, ao minuto,
a mais uma. E todas elas sem razão aceitável e nem sentido plausível. Nada de avanço, ou pouco;
a ambição Imperial, o domínio comercial, o simples e efémero exercício poder, continuam a ter os seus actores, que repetem os mesmos papéis, com direito agora a serem vistos todos os dias e ás vezes, até… aplaudidos.
Já não se usa o pelourinho, é verdade, mas continua a matar-se na praça pública, em nome do nada.
E se é verdade que a seara pode agora fazer-se automaticamente, gota de água após gota de água, continua a haver mesmo assim, quem não coma, porque não sobra para si.
É certo que há quem ande de avião, cada vez mais rápido, mas cada vez mais e quem ande a pé…por
não ter asas… talvez.
Dos animais que existiam no admirável Mundo Novo, muitos desapareceram, porque tinham dentes de marfim, ou por ter tido fim o espaço, já escaço, em que há milénios vivam.
A voz com que se falava, que tinha cunho pessoal, despertava paixões e resolvia diferendos, perdeu a
sua magia, e cedeu o seu lugar ao indiferente matraquear do teclado, que cumpre a sua missão, mas não consola, nem sente.
A par das novas tecnologias pululam também as novas ideologias de grupo, sobre tudo e sobre
nada; são umas sensatas e úteis, outras menos, pouco ou nada; nada tenho obviamente contra,
desde que sejam, como devem ser, para meditar, aceitar ou rejeitar, e nunca para absorver obrigatoriamente, directa ou indirectamente.
Posso dizer a Huxley que ainda não é prática duplicarem-se crianças iguais em Laboratório neste seu maravilhoso Mundo novo, mas vejo, e cada vez mais, o Ser humano reduzir-se a um número, numa soma de números.
Pura leitura minha das coisas, claro. A vossa tem direito a ser outra.
E aqui fica o meu pensamento sobre o assunto:
“A tecnologia precede o homem, na sua
necessária mudança… “