Matou-se. Pôs termo à vida. Foi desta para melhor. Enforcou-se. Suicidou-se. Partiu para outra dimensão. Sem a justiça à perna. Por rendas indevidas.
Depois de muito estrebuchar em fugas de seca e meca em resorts de luxo acabou no lixo. Na lixeira de uma prisão.
Vidas danadas, enroladas na ganância e na cobiça. Vidas em que o ter sobreleva o ser.
Vidas que acabam mal e no fim conta-se uma história triste.
Não valeu a pena ter vivido corrompido, e já se sabe de ciência certa que o crime não compensa.
Mais tarde ou mais cedo a longa mão da justiça fará sentir o peso esmagando veleidades e narizes empinados.
Neste vasto mundo há uma hora que é a de acabar. Pode é não ser miseravelmente. Mas decentemente. Se se tiver sido decente.
Há muitas maneiras de morrer e toda a gente que eu conheço deseja uma santa morte, com uma agonia ou breve ou muito breve, sem sofrimento, mas de preferência melhor mesmo é acordar morto na eternidade.
Também se morre muitas vezes nesta vida por variadas razões, e a mais comum é morrer de susto, para logo se ressuscitar no minuto seguinte a tão profundo ai.
Quem nos caminhos dos mistérios profanos ou religiosos se envereda morre no processo de iniciação ou de batismo para renascer com um novo ser regenerado e reparado nas respetivas falhas, em que as de carácter assumem neste campo a maior redenção.
Também se morre por um mergulho na praia, por um copo de cerveja ou de vinho, assim como há quem esteja sempre mortinho de sono, por uma voltinha de avião ou por uma queca quando chega a testão.
Isto de morrer não é apenas uma questão de atestado de óbito, requer muito mais do que um médico legista, pois por força dos matizes com que aparece nunca por nunca ser usa a mesma veste.
Pode-se morrer por um dá cá aquela palha, assim como se pode igualmente morrer por dá cá aqueles milhões que escondeste nos off shore e subtraíste a clientes que ludibriaste e mentiste sem nenhum escrúpulo, pelo que não há lugar a qualquer remorso nem sequer alguma culpa se lhe pode ser atribuída quando a inteligência suposta é de tal modo superior que ultrapassa todo o conceito de dolo fazendo do outro o tolo.
Os tolos que foram ao engodo, verdade também se diga, na sôfrega sua avidez por maiores lucros e proventos.
O génio e a loucura correm a par na tragédia humana. Poucos são humildes e menos ainda os sábios que se contentam com o espetáculo do mundo.
Ninguém reconhece que alguma vez foi vil, mas todos se arrogam proezas e valentias. No fim, no fim da estrada, acabamos inteiros numa rubra ara que é o altar onde se sacrifica a vida morrendo.