Sim, sou católica, baptizada, crismada e ligada à religião segundo a qual fui educada. Não é preciso muito pois a minha escolaridade até aos 16 anos foi toda feita num colégio de freiras onde se rezava no início das aulas. Mas nada disso fez de mim uma louca por religião ou uma beata. Pelo contrário, não sou de ir à missa nem cumprir certos rituais. Mas sou católica porque considero uma religião de paz e porque assim os meus pais quiseram…
Tudo isto para vos falar do Papa Francisco. Já aqui vos trouxe um editorial a falar dele mas urge que hoje, dia em que já não acordou pela manhã, eu fale deste HOMEM que para mim era um Santo Homem de Deus que veio para espalhar amor e alertar os homens na terra que as guerras e as mortes não levam a nada a não ser a um vazio espiritual incontornável.
Francisco não foi um Papa vulgar. Todos lhe devemos muito por ter tentado aproximar todas as religiões, toda a humanidade, em torno do objectivo paz e solidariedade. A todos Francisco abraçou, os mais pobres, os mais frágeis, os mais esquecidos, os mais acossados, os marginalizados, os perseguidos…
O pontificado de Francisco foi como um computador sempre em atualização, moderadamente, como sempre, mas a ganhar terreno na defesa das periferias e minorias, da tolerância e paz num mundo que repentinamente se tornou intolerante, xenófobo, racista e extremista sendo palco de várias guerras e numa igreja enlameada pelos abusos sexuais de alguns dos seus membros.
Francisco assumiu a liderança da igreja católica com a humildade que lhe era conhecida e desde logo recusou os luxos do seu antecessor.
Uma das maiores batalhas dentro da própria igreja foi contra os abusos sexuais tendo feito tudo o necessário para levar à justiça quem tivesse cometido algum tipo de delito.
Uma das suas grandes causas assumidas em 2015 era ver que os países ricos sacrificariam algum do seu crescimento libertando recursos necessários para os países mais pobres. Tudo isto ele colocou em texto quase uma proposta de verdadeira revolução social, ambiental e económica.
Cobrindo temas que vão do ambiente ao desemprego e falta de habitação, Francisco apelou em junho de 2015 às potências mundiais para salvarem o planeta, considerando que o consumismo ameaça destruir a Terra e denunciando o egoísmo económico e social das nações mais ricas.
Para o Papa, não há dúvida de que o aquecimento global é consequência da ação humana, afeta principalmente os mais pobres e é preciso uma “ecologia integral” em que “a humanidade tome consciência da necessidade de mudar modos de vida, produção e consumo” para o combater.
Cinco anos depois, nova encíclica papal, intitulada “Fratelli Tutti” (Todos Irmãos), dedicada à fraternidade e amizade social e na qual Francisco criticou o reacendimento de populismos, racismo e discursos de ódio, lamentando a perda de “sentido social” e o retrocesso histórico que o mundo está a viver.
Nessa encíclica, Francisco identificou o surgimento de “novas formas de egoísmo e de perda do sentido social, mascaradas por uma suposta defesa dos interesses nacionais” e associou discursos de ódio a regimes políticos populistas e a “abordagens económico-liberais”, que defendem a necessidade de “evitar a todo o custo a chegada de pessoas migrantes”.
Sobre o racismo, Francisco disse ser um “vírus que muda facilmente” e “está sempre à espreita”, em “formas de nacionalismo fechado e violento, atitudes xenófobas, desprezo e até maus-tratos”.
A sua última encíclica, publicada em 24 de outubro de 2024 e intitulada “Dilexit nos” (Ele amou-nos), trata do “amor humano e divino do coração de Jesus Cristo”, com críticas ao que considerou ser um mundo preso no consumo e violência.
“Hoje tudo se compra e se paga, e parece que o próprio sentido da dignidade depende das coisas que se podem obter com o poder do dinheiro. Somos instigados a acumular, a consumir e a distrairmo-nos, aprisionados por um sistema degradante que não nos permite olhar para além das nossas necessidades imediatas e mesquinhas”, escreve o Papa.
O papa promoveu a reforma da Cúria (o Governo do Vaticano), um processo iniciado com a criação do Conselho de Cardeais, um mês após a sua eleição, que teve como ponto alto em 2022 a constituição apostólica ‘Praedicate evangelium’, extinguindo vários organismos e criando Dicastérios, que passam a funcionar como departamentos ministeriais do Vaticano.
Foi nesse contexto que o português Tolentino de Mendonça assumiu as funções de prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, uma reforma que levou à nomeação de uma mulher, em janeiro deste ano, para a liderança dos Institutos da Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.
Em dezembro de 2023 foi publicada a declaração “Fiducia Supplicans” (Suplicando a Confiança), pela Doutrina da Fé, que aborda as chamadas “relações irregulares”, vínculos monogâmicos de pessoas que não casaram pela Igreja.
Os padres passaram a ter permissão de realizar bênçãos a casais do mesmo sexo, mas também casais do sexo oposto que ainda não são casados, sem que isso signifique que as relações passem a ser abençoadas.
Esta decisão foi criticada por conservadores e por progressistas, gerando uma das polémicas que mostram a atualização do Vaticano, sem colocar em causa a doutrina.
Dentro da Cúria, os mais conservadores alinharam-se com o cardeal eleitor norte-americano Raymond Burke, um cardeal norte-americano crítico da abertura do Vaticano e defensor de um regime mais rigoroso no que respeita às relações homossexuais ou divorciados.
Outro dos cardeais eleitores, que progressivamente se tem afastado do Papa é o alemão Gerhard Müller, afastado da Congregação da Doutrina da Fé, que criticou a carta pastoral “Amoris Laetitia” (Alegria do Amor), de 2016, que abre a porta canónica aos divorciados recasados e a teologia latino-americana por uma tradicional “falta de rigor teológico”.
Na gestão dos dinheiros do Vaticano, Francisco procurou também moralizar os processos. O cardeal Angelo Becciu, próximo do Papa, foi afastado por causa de um processo de corrupção que o levou a uma pena de cinco anos e meio de prisão.
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