A “tonteria” é comummente conotada com a idade; dela se diz que é tolice de velho, de alguém que já não sabe o que pensa, nem já dá conta do que diz… Estando instalado há algum tempo, nesse estágio da
vida, refuto completamente essa ideia. Em todas as idades se cometem loucuras, ingénuas umas,
incompreensíveis outras. E todos nós o fazemos.
Para que melhor compreendam, ao que me refiro,vou mencionar algumas das tontarias que considero mais comuns.
A mania de fazer em sobre- esforço tudo o que pode e deve ser feito a seu tempo e no seu ritmo, é seguramente uma tontaria, que, tarde ou cedo, acaba mal, tanto para aquilo que se está fazendo, como para quem o faz, que mesmo sabendo disso, não abranda.
O mesmo acontece com o vício de carregar pesos indevidos, e fazê-lo até da forma menos indicada, mas é
que é o que se vê e faz todos os dias.
Outra das tontarias em curso, é querer decidir em velocidade, na hora, não dando tempo a reflexão, mas
sim à preferência ao desejo, sem uma ponderação cautelosa dos prós e contras.
Essa mesma velocidade exagerada, se usa no gastar do tempo livre, tão preenchido, tão preenchido, que de descanso tem nada.
Estas tontarias comezinhas, pagam-se sempre caras, física e mentalmente, e quando chega a hora de as
pagar, é já tarde de mais, sabendo-se que nada volta para trás, e tudo pelo contrário se desgasta. E paga-se com juros. Mas nem sequer em tal pensamos, e quando o pensamos, logo s põe parte o pensamento …
O continuo uso dessa frenética aceleração, leva a decisões insensatas como esta que me lembro de ter
tomado e vos conto, e estava bem longe de ser velho: Tinha para aí trinta anos, e na sequência duma das
minhas visitas de informação médica, cheguei a uma pequena Vila do planalto Africano, onde à noite a
temperatura até era agradavelmente negativa, contrariamente ao que se pensa sempre acontecer nesse
espantoso continente.
Para lá chegar, era necessário atravessar durante parte do dia uma extensa e densa floresta tropical, povoada por quase tudo o que possam imaginar de fauna selvagem; eram uns largos quilómetros de enorme beleza, mas também de risco, calculado, que se podia e devia minimizar.
Como me despachei mais cedo do que esperava, decidi lá não pernoitar por lá, e fazer a viagem de regresso, sozinho, até à povoação da planície, já o sol descia; o caminho pelo interior da húmida floresta, era um simples trilho de areia, irregular, por entre árvores e mato; mal entrava já a luz da lua cheia, e tudo o que se ouvia era o despertar da fauna que a habitava, que ao cair da noite começava a sua rotina de sobrevivência, e felizmente para mim, também durante todo o percurso se ouviu, o grato ruído do motor…
Durante quase duas horas assim foi, com um ou outro avistamento dos donos do local, certamente surpresos com os faróis, mas não tão preocupados quanto eu.
Quando cheguei à pequena e única pensão da zona baixa, onde dormi um par de horas, surpreendido ficou o dono por ver apenas um carro e só um cliente; e tinha toda a razão; mandava a experiência, a prudência e a sensatez, que assim não tivesse sido.
E saibam que essa imprudente decisão, foi tomada para chegar a casa, trezentos quilómetros mais além, um dia mais cedo do que estava previsto…
Insensata tonteria, para não dizer pior, instigada pela pressa que queremos sempre imprimir à nossa vida.
E o que tem afinal a idade a ver com isso? Nada!
As loucuras, tal como o êrro, fazem parte do normal comportamento humano, em qualquer período da sua vida.
E aqui fica o meu pensamento sobre o assunto:
“Só não erra, quem já não está na Terra …”