Se há ser humano que saiba tirar partido do seu natural encanto, é certamente a mulher. E a mulher do meu tempo, século XX, não se esqueçam, usava para tal efeito, e entre outros acessórios, os dois que aqui vou lembrar: o Báton, e a Carteira.
Não podendo a mulher, nessa altura, mostrar outros encantos, espartilhada que estava pelos rígidos princípios desses tempos, não saía à rua sem pintar os lábios, e retocar o traço dos seus olhos; para isso se servia dum lápis próprio, e do báton, um pequeno stick moldável, disponível em várias cores e tons, suavemente perfumado, que visivelmente realçava a beleza e a curva dos sus lábios, fazendo sonhar com o gosto e a ternura dum beijo.
Para cada ocasião, e até para cada hora do dia, havia uma cor, que podia ser a da moda, constantemente renovada, ou aquela que melhor se conjugasse com o seu trajo, o seu rosto, ou tom da sua pele.
Usá-lo bem, requeria habilidade e prática, que rapidamente, contudo, se adquiria; era no mínimo alegre à vista e sem dúvida distintivo.
Esse benefício tinha, como tudo, os seus matreiros malefícios, já que, na troca de um beijo, deixava a sua marca, o que resultava, para os mais descuidados, em inesperados e desagradáveis amargos de boca; e nunca a expressão foi tão adequada! Que o diga quem tenha passado por tal…
Outro parceiro indispensável da mulher do meu tempo, foi a sua carteira, que tinha de combinar com o tipo e cor do vestido usado, e condizer igualmente com os sapatos, o que obrigava a ter várias carteiras e o calçado respectivo.
Dizia-se nesse tempo que a mala duma mulher era um verdadeiro “armazém”, tantas eram as coisas julgadas necessárias, que ela lá dentro metia;
Em defesa das mulheres, devo acrescentar que vi sair dessas mesmas malas, e na altura precisa, a salvação milagrosa, em muitas situações imprevistas, desde a tesourinha ao tira-nódoas, e da aspirada à inesperada cópia da chave da porta de casa, que se tinha mais uma vez esquecido; e embora o interior da carteira parecesse a maior das confusões, a sua dona, essa, ia direitinha ao que queria.
O batom e a carteira não desapareceram ainda, mas perderam muito do seu valor e, consequentemente da sua força, na luta contra a mini-saia e a mochila, que, ao que parece, só apresentavam vantagens…
E porque já passei por muitas modas, tempos e pensamentos, já agora vos digo, que a mulher não precisa de nenhum adereço, para ser naturalmente bela e desejada; tem tudo em si para isso, e tem mais a inteligência e a resiliência, que tanto admiro.
Só espero que na justa busca do lugar cimeiro que a mulher merece, não deixe nunca, mas nunca, de ser
mulher…
Assim sendo, escrevi, o meu pensamento da semana:
Não há adereço que valha, o que está dentro de quem o usa…