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Duplo F
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“A minha professora primária”

Já vai tempo, no meu tempo, em que a professora primária era figura elogiada, amada, dignamente tratada como peça indispensável da instrução de base, alicerce de tudo o que a seguir se quisesse, ou pudesse acrescentar.

Chamava-se a minha, Clarisse, nome esquecido na lista dos nossos dias, mas não esquecida ela, por quem, como eu e tantos outros, durante quatro anos ouviu a sua voz forte e áspera, que debitava saber, para usar por toda uma vida.

Autoritária e disciplinadora, dizia Ela, entre outras coisas, que as palavras deviam ser pronunciadas clara e perfeitamente, para poderem ser bem compreendidas, e valorizarem devidamente a mais linda das línguas…

E dizia também que o acto de aprender não permitia distrações, porque e só fixa devidamente, quem está fixado no que está a fazer.

Em cima da sua secretária lá estava, como era regra, a “menina dos cinco olhos”, a palmatória que ao tempo se usava para punir os distraídos. Claro que de modo algum advogo que ela, a palmatória, volte à escola, mas é justo que desfaça o mito do seu mau uso: alguns o fariam certamente, mas em todo o tempo do meu ensino primário, nunca vi que por ela a palmatória fosse usada sem razão, ou por vício; era para si uma forma de mostrar que à falta corresponde um castigo, ainda que simbólico.

A Clarisse não faltou nunca a uma aula, e nunca também vi dar vinte valores fosse a quem fosse, por achar ela que a perfeição era só dos Deuses, mas “Muito Bom”, dava, a quem merecia … Em contrapartida elogiava com frequência uma boa resposta ou um trabalho de casa bem feito, chamando para ele a atenção de toda a turma.

Mudei de parceiro todos os anos, porque ela assim o queria, dizendo-nos que essa mudança nos daria a noção que cada um de nós é um ser diferente, e de todos se aprende qualquer coisa.

E a sábia Clarisse tinha toda a razão.

Que pena que ela já não possa ler o que agora escrevo, porque foi de facto Ela que me pregou o vicio de escrever, quando um dia me disse: Sabes “meu Menino”, o que se diz falando, foge com o vento, mas o que se diz escrevendo fica, e pode ser emendado…

Respeitada, Ela partiu há anos, certamente com muita pena de não poder continuar a dar as suas aulas, porque a profissão que toda a vida exerceu, foi, e só podia ter sido, inteiramente cumprida com profundo amor.

Como amor gera amor, mesmo 85 anos passados, aqui lhe digo:Obrigado Professora!

O tempo passa, as coisas mudam, e as perguntas naturalmente surgem:

Será que no ambiente deste novo mundo, se mantém a justa nobreza da figura de mestre-escola, e ainda se troca amor por eterna admiração?

F porque não?

Oxalá Clarisse!

E o meu pensamento de hoje é:

“Quem aprende nunca perde; nem nunca faz um favor…senão a si “

 

Créditos Imagem:

Austrian National Library – Unsplash Free Photos

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