Na segunda metade dos anos trinta Benjamin Chaney levou consigo o seu cachorrito ao ter ido trabalhar para a Base Naval de Simon’s Town, na província do Cabo Ocidental da então União da África do Sul.
O Instituto da Marinha Real Britânica onde Chaney se integrou era naturalmente frequentado por marujos que se habituaram a ali ver o ‘Great Dane’ a crescer de tal modo que ao levantar toda a sua corpulência nas patas traseiras chegava aos dois metros.
Tratava-se de um autêntico mascote que acompanhava a marinhagem a todo o lado, inclusivamente ao convés de navios atracados na Base Naval.
O Great Dane habituou-se a preferir alojar-se à entrada do portaló; o que atrapalhava sobremaneira quem subia e descia as escadas de acesso a bordo pelo que ao companheiro canino de todas as tripulações foi-lhe dada a designação de ‘Incómodo’(Nuisance).
‘Incómodo’ também acompanhava marinheiros nos comboios que transitavam uma trintena de quilómetros entre Simon’s Town e a Cidade do Cabo.
Um passageiro clandestino canino daquela envergadura, porém, não escapava às atenções do revisor. Ainda que repetidamente fosse proposta a compra de um bilhete-extra a ‘Nuisance’, o caso não era visto com bons olhos nos Caminhos de Ferro. Benjamin Chaney foi ameaçado de que o seu ‘Incómodo’ poderia ser abatido se aquela aventura ferroviária continuasse.
Alguém propunha comprar-se-lhe um bilhete de ida e volta válido por uma época; o assunto transbordava para o foro da praça pública. Até que a imaginação dos marujos frequentemente acompanhados por ‘Incómodo’ passou a funcionar ‘a todo o vapor’: enviaram uma exposição ao Comando Naval.
Este, para resolver o contencioso, decidiu incorporar ‘Incómodo’ na Marinha Real Britânica (o único marujo canino em toda a sua História!), pois que como membro da equipagem usufruiria do direito a uma passagem grátis nos comboios; ponto final, parágrafo.
Para que também pudesse desfrutar de rações grátis, mercê ‘os anos de serviço prestados como fiel companheiro de marinheiros’, a Nuisance – para manifesto gáudio e estímulo do moral da marinhagem – foi-lhe dada a patente de ‘Able Seaman’ (ou Marinheiro com pelo menos dois anos de experiência), sendo incorporado a 25 de Agosto de 1939, a praticamente uma semana da eclosão da Segunda Guerra Mundial. Como fora necessário dar-se-lhe nome e sobrenome nos formulários, passou a ser designado de Just (Simplesmente) Nuisance (Incómodo).
Para sua ‘felicidade conjugal’ foi ‘apresentado’ a esbelta Great Dane de seu nome Adinda.
O ‘enlace’ deu-se a 1 de Junho de 1941. Desse (a)casa(la)mento provieram cinco cachorritos (granjeando de grande popularidade) que foram vendidos, cujos proventos se destinaram a um fundo de ajuda ao esforço bélico.
A dada e malograda altura ‘Simplesmente Incómodo’ foi atropelado, causando-lhe uma trombose que acabou por paralizá-lo; tinha nessa altura quase sete anos de idade. Em Janeiro de 1944, ‘Simplesmente Incómodo’ deixava de pertencer às fileiras da Marinha Real Britânica.
No Primeiro de Abril desse mesmo ano foi levado ao Hospital Naval de Simon’s Town onde o veterinário aconselhou que se pusesse termo ao seu sofrimento. No dia seguinte foi levado ao Campo Klawer.
O seu corpo, embrulhado na Bandeira Branca da Marinha Real Britânica, foi enterrado segundo honras navais – com uma salva de tiros de canhão e ao som do ‘Last Post’ entoado pelo corneteiro da Marinha.
Na Praça do Jubileu da Base Naval de Simon’s Town pode ver-se nos dias de hoje uma estátua a Just Nuisance. A partir do ano 2000 passou a haver uma parada anual de Great Danes, sendo seleccionado aquele que mais se parecesse com… ‘Simplesmente Incómodo’.