O Lusitano é por natureza habilidoso e inventivo, pau para toda a colher, como no meu tempo se dizia.
No campo da música, indispensável complemento da vida, não se ficou pelo que ouviu, e criou um género próprio, uma a canção de queixume, muito sua, e não contente fez também o instrumento ideal que a acompanhasse; não era coisa nova essa habilidade, pois no conjunto musical da Santa Terrinha todos tocavam já em instrumentos por si construídos.
Mas o mais famoso e ubíquo dos instrumentos de sua criação, foi sem úvida a Guitarra Portuguesa, pelo seu formato, e a sonoridade única e rica que oferece. A caixa de som, também invulgar, é em forma de pêra, e utiliza seis cordas, Mi , Si, Sol, Ré, Lá e Mi, com afinação específica do utilizador.
Se nasceu em Coimbra, ou no Porto ou em Lisboa, como vários opinam, pouco isso importa, pois em todas estas cidades evoluiu e foi usada; mas foi na Capital que ganhou invulgar divulgação, como suporte duma canção de lamento e desabafo, nascida no seio da classe desfavorecida, focada essencialmente na vida e nos seus enredos; atraía pela magia da sua força, pelo requebro e ritmo como era interpretada , quiçá até pela atracação do ambiente aberto e descontraído, humano e forte, que a cercava; em breve e à socapa. a classe nobre, também depressa a adoptou, tal qual era.
Porque falava de destino, lhe chamaram Fado. E para o povo, Fado ficou; e Fado é hoje, em todo o lado.
Quantas são as explicações possíveis para o seu nascimento…
Essa guitarra bem portuguesa, subiu no século XX ao topo do Mundo, quando foi solicitada para ser instrumento de solo em concertos de algumas das mais reputadas orquestras mundiais, com direito a intermináveis salvas de palmas.
Gerações de excelentes Fadistas, parelhas de instrumentistas, e ilustres letristas, fizeram do Fado, sem talvez o pensarem, mais um dos símbolos do País. Todos merecem o nosso reconhecimento, e o nosso justo agradecimento, mas é sempre o nome de Amália, Amália Rodrigues, aquele que ressalta, pelo mérito e inteligência com que o divulgou.
Não quero fechar esta conversa sobre a Guitarra portuguesa, sem vos dizer, que o fado de hoje tem extraordinários executantes de guitarra, jovens entre os 20 e os 30 anos que deram ao Fado uma elevação melódica sem par, e trouxeram o trinado da guitarra e a marcação da viola, da posição de acompanhantes, para a de actuantes, lado a lado e tão visíveis, quanto a voz que acompanham.
Daí resultou um novo fado, mais rico em valor melódico, que, estou crente, Amália, que entrevistei e apresentei, aplaudiria entusiasmada.
Pena que a letra se decore, e se repita, mas nem sempre, ou quase nunca, o nome de quem a escreveu…
E aqui fica o meu pensamento sobre o assunto:
“O Fado é Vida; ou será a Vida um fado?!”