De vez em quando no decorrer da vida, damos connosco a falar sozinhos.
Isto que vos digo, pode acontecer, pelo menos por duas razões: estarmos sós e a falar alto para alguém que na verdade lá não está, ou estarmos com alguém que embora presente, não presta a mínima atenção aquilo que nós estamos a dizer.
A primeira situação, por duas razões pode igualmente acontecer, antagónicas no humor, mas gémeas no resultado: ou acontece num momento de fúria, em que à falta de melhor, vociferamos para as paredes, descarregando dessa forma a nossa raiva ou, pelo contrário, num instante de extrema ternura, marcado pela saudade, em que falamos para alguém que já não está ou nunca mais poderá estar; neste caso, até dialogamos, como se a sua presença fosse uma normal realidade.
Em ambas as situações, o falar sozinho é um alivio salutar, com palavras impróprias e salgadas lágrimas de fúria, na primeira e com doces e silenciosos fios de água, correndo pela face, naquela em que recorda, com dor embora, a insubstituível ausência dum calor humano que se perdeu no caminho, onde de mãos dadas connosco, subira as mesmas veredas de dor e de prazer, de dúvida e de certeza.
Mas nos tempos de hoje, outra forma chegou de ficarmos a falar sozinhos a qualquer instante e, até todos os dias. Nas conversas de outrora, tudo era seguido pelos presentes, com gosto, com educação, e com visível atenção; os participantes não se limitavam a ouvir, intervinham, acrescentando valor e opinião, ao momento ou ao assunto, fazendo assim o tempo passar em se dar por isso.
Hoje, essas conversas já não existem; é caso até para se dizer, que já foi chão que deu uvas… Quando alguém hoje fala, é tanta a distração de quem parece escutar, que não raro é que quem o faz, fique com a amarga sensação de que ninguém o está a seguir, e está portanto a falar sózinho, já que um qualquer ecrã, notoriamente mais importante, solicita a todo o instante a atenção dos presentes, de forma aberta ou discreta.
Cada vez mais isto que digo acontece, como cada vez menos uma geração escuta a outra, como ao contrário acontecia em tempos doutro tempo, que já não voltam mais. Nem pensem!
Conversa atenta, hoje, é só para as precisões.
Será melhor assim, ou será que não?
Mas de que serve realmente a resposta?
Sendo assim, não se assuste nem preocupe, se de repente der consigo … a falar sozinho!
O meu pensamento sobre o tema:
“Falar sozinho pode não ser por defeito nem feitio …”