Desengane-se quem julga, que a Aldeia é coisa do passado, imagem perdida dum tempo que teve coisas boas e más, como todos os tempos.
Por dever humano fui despedir-me de quem partia, pessoa amiga, depois de noventa anos passados na sua aldeia, no Alentejo profundo, Guadiana à vista, cumprido que foi o seu o seu dever, e deixados nove filhos, todas raparigas por desejo do destino.
E a Aldeia lá estava, em cópia nova, maior, as casas à maneira do local, bem caiadas, janelas pequenas e fechadas para tornar fresco o interior. As ruas são agora alcatroadas, e devidamente sinalizadas, tal como a praça ou povo, como se dizia; os carros dos que chegavam e os que por lá já existem, não deixavam espaço vago.
Para além da triste razão que ali me levava, dezenas de anos depois, encheu-me a alma verificar que todos se continuavam a conhecer-se, todos se tratavam pelos nomes próprios, todos se abraçavam com risível prazer, todos queriam ajudar, todos constituíam um todo verdadeiramente amigo. Era a velha aldeia a funcionar, como antes, um por todos e todos por um.
Na Aldeia ainda há quem faça o seu pão, o tal pão alentejano de sabor especial.
Trajo livre, sem ser obrigatório o negro que no passado obrigatoriamente se usava.
O Padre era Africano, de Cabinda, rapaz novo, com um discurso simples e directo, lembrando que a morte, faz parte da vida, na cidade e na Aldeia.
Constatei que, apesar das mudanças do tempo, naturais e necessárias, a Aldeia continuava a existir, no mais belo e profundo do seu ser: o sentido de irmandade, da interajuda, do apego à terra que o homem lavra na devida altura, e a chuva rega quando quer.
A Aldeia , que já tem internet, mantem o falar de olhos nos olhos, que sempre teve: e o telemóvel que também já tem, usa-o o sim, mas só para contactar com quem está longe, e não por vício, mas pela saudade de ouvir filhos e netos..
E já agora confirmo que também ainda há “migas” para quem as queira comer, mais a sopa de cação e as primícias da horta…E não precisa pedir.
Lá partiu a Isabel. Pelo que vi, será seguramente lembrada.
E a aldeia, como exemplo de puro calor humano, está viva como acima disse, …e recomenda-se.
Regressei de alma cheia, para 300 km de estrada até à grande Cidade, onde no pombal em que se mora, as pessoas se não conhecem…
E aqui fica o meu pensamento sobre o assunto:
“O que é genuinamente humano, sobrevive sempre, nunca morre!”