As ameijoas do meu tempo…
Um dos bons petiscos desta vida, é um saboroso prato de ameijoas, feito à moda do escritor, Raimundo António de Bulhão Pato, poeta e ensaísta, ou doutra maneira qualquer.
Um zero à esquerda na cozinha, como sou, não esperem que vos traga uma receita, mas de ameijoas vou falar, apanhadas em enormes quantidades na areia duma praia, e calculem, algumas vezes até ali cozinhadas.
O Oceano Índico é não apenas fértil no que é considerado o melhor marisco do mundo, mas também noutras espécies apetecíveis, entre elas grandes e saborosas ameijoas.
A cidade onde vivi na primeira metade do século XX, era circundada por um porto, de grande actividade, e por uma praia com quilómetros de extensão, que era na época a diversão maior de quem na cidade vivia; para além do banho, de mar, que podia ser diário, a praia oferecia , na época própria, a oportunidade de, ao fazer com as mãos uma pequena cova na quente areia dourada, á beira donde as ondas se espraiavam, poder apanhar e em poucos minutos, um balde cheio de excelentes ameijoas.
Uns quilómetros mais adiante, na mesma praia, ao mesmo se dedicavam todos os dias, grupos de mulheres, que disso faziam a sua vida, vendendo-as depois na banca do bazar, nome com que se designava por lá o mercado.
Apanhadas as ameijoas e depois do banho restaurador, havia quem as cozinhasse ali mesmo, depois de lavadas com água do mar, para despejarem a areia que continham; sombras não faltavam debaixo das copas das árvores tropicais que subiam a encosta, que a natureza sozinha criara e alimentava; e achas para a fogueira também por isso não faltavam…
O que vos conto, eu próprio vivi, mas tenho a certeza de que haverá quem laia, que tenha tido este mesmo insólito prazer. O Bilhão Pato já escrevia, a milhares de quilómetros de distância, mas para além dos versos, até nós não tinha chegado ainda, a tal receita…
