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Monteiro Cardita
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10 de Junho em Bruxelas 

Ainda bem antes de se entrar no bosque já se exalava ao longe o cheiro a sardinha assada, que nunca engana. Como o algodão. Sinal mais do que seguro de que não nos tínhamos equivocado no caminho e que estávamos mesmo no sítio certo.

Era ali, sem dúvida nenhuma, a festa portuguesa.

Percorre-la foi entrar na recreação de um cenário de saudade, trabalhado sobre a imaginação da realidade, que é sempre outra coisa ainda. E essa coisa é que linda.

Nos fogareiros dos diversos restaurantes associados à iniciativa, que se derramavam pelo verdejante parque, também se grelhavam as belas das febras salgadas a preceito e servidas no ponto certo.

Era um regalo o chouriço assado espalhado pelas mesas dispostas ao comprido alinhadas por bancos corridos sem espaço para espaldares que nos amparassem as costas, mas onde se erigiam mastros com a bandeira verde e rubra.

Para a festa ser mesma à séria não faltaram os coiratos, mas em vez de serem comidos num papo seco foram servidos em baguetes, o que, diga-se, lhes retira parte da graça, mas enfim, é o sucedâneo possível.

Em grande profusão, as mines, marca Sagres e Super Bock, nada de cerveja belga, alemã ou holandesa, escorregavam gargantas abaixo para iludir o calor num sabor autêntico e leve que é o nosso.

Faziam-se filas bem grandinhas nas barracas das farturas, que se querem carregadas de açúcar e canela, embrulhadas em guardanapos para absorver o óleo da fritura. Estavam boas, tão boas como as da aldeia.

Não podiam faltar nem faltaram. Para deleite maior houve música pimba abrilhantada pelos cantores mais em voga, cujos nomes me escapam da memória, e o bailinho para a grande curtição.

Naquela festa do Dia de Portugal deste ano, que se comemorou no domingo 12 e não na sexta-feira 10, entre a fraterna comunidade não se distinguiam os chamados emigrantes de primeira geração, sobretudo pedreiros e porteiras, e os ditos expatriados de agora, médicos, enfermeiros e quadros das instituições, irmanados que estão no culto ao poeta da afirmação da língua, na alma da gesta lusitana, nos costumes da tradição e nos sabores de casa.

Regressados a casa o pior depois é retirar o cheiro a sardinha da roupa, que foi logo direta para a máquina, e das mãos, que por mais que se lavem persiste num rasto que tarda em sair da pele, o qual não combina com nada a não ser com o da própria festa.

 

Créditos Imagem:

D.R.

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